A propósito da encoberta transferência do Arquivo Histórico Municipal de Sintra para o Arquivo Intermédio de Vila Verde aqui fica o artigo de opinião da vereadora Paula Simões.
“Onde está a verdade? A verdade encontra-se no desrespeito que este executivo camarário, em particular o Pelouro da Cultura, na forma como cuida da memória coletiva do nosso Município, transmitida de geração em geração, e que cumpre ao Arquivo Histórico zelar pela sua conservação e legar, como herança, ao futuro.
De facto, a transferência ad hoc efectuada pelos colaboradores do Arquivo Histórico para o “Lourel Park”, onde está sediado o Arquivo Intermédio constitui, por si só, um desrespeito por essa mesma memória, independentemente das condições de conservação e preservação que ali possam existir.
Seja como for, arrecadar a memória escrita secular do nosso Concelho num pavilhão industrial demonstra, inequivocamente, o desinteresse deste executivo por essa mesma memória ao despojá-la, sem qualquer vergonha,da dignidade que o tempo lhe conferiu. Só falta mesmo inaugurar o depósito com pompa e circunstância.
Na verdade, o Arquivo Histórico estava, desde a sua criação por Francisco Costa (também fundador da Biblioteca Municipal de Sintra), instalado no Palácio Valenças, em pleno Centro Histórico, de acesso fácil a estudantes e a investigadores. A dignidade do edifício era, pois, compaginável com a dignidade do acervo que resguardava, apesar das debilidades – em termos da conservação documental – que todos lhe reconhecemos e que levou, há mais de uma década, à cuidada transferência da Biblioteca Municipal para novo edifício.
Está claro para todos que o Palácio Valenças não reúne já as condições que a ciência arquivística impõe hoje para continuar a albergar a memória de todos nós, mas encafuá-la numa arrecadação também não é solução, é, antes pelo contrário, um absoluto disparate! Sobretudo quando existe uma alternativa digna, tão digna como o espólio do Arquivo Histórico de Sintra.
E lembramos aqui a Casa de Francisco Costa (projeto de Raul Lino), legada à Câmara Municipal de Sintra pela sua filha, para ali instalar um espaço dedicado à investigação histórica deste grande vulto da cultura e da história, e que se encontra devoluto e decadente. Que melhor homenagem se poderia fazer ao Arquivo Histórico e ao seu fundador?
Porque não, Arquivo Histórico de Sintra?... Centro de Estudos de História Local Francisco Costa?...
Não é difícil, não é inédito, mas é correcto... connosco teria sido esta a história!".
Vereadora Paula Simões
Sintra, 21 de abril de 2016
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