ARTIGO DE OPINIÃO - "LEMBRAR VERGÍLIO FERREIRA"

"VERGÍLIO FERREIRA: RELEMBRANDO O CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO (1916-2016).

Vergílio Ferreira, natural do Concelho de Gouveia, onde nasceu em 1916 (falecido, em Lisboa, em 1996), foi professor, mas foi também um dos mais importantes escritores portugueses do século XX e um do pilares do neorrealismo, tendo iniciado a sua produção, na década de 1940, com O Caminho Fica Longe (1943). Não se assumindo como marxista nem como católico, trilhou um percurso distinto que o conduziu, também, ao gosto pela Filosofia, destacando-se, para além do existencialismo de Sartre e de Malreaux, aInvocação do meu corpo(1969), onde escreveu que “o essencial não é para se pensar mas para se sentir” e que a “verdade é amor”.

Da sua vasta produção destacam-se três romances: Manhã Submersa (1954) adaptadoao cinema por Lauro António. Nítido Nulo (1971), Na Tua Face (1993) eAté ao Fim (1987), o “caderno de apontamentos”Conta-Corrente (1980-1988),cujas narrativas e descrições se passam, não raras vezes, nas praias sintrenses: designadamente, no Magoito, na Praia da Aguda, nas Azenhas do Mar – onde “não há mais verdade do que o sol e o mar” –, na Praia das Maçãs e na Praia Grande. Escritos que evocaram ainda Galamares, a Peninha, o Cabo da Roca, Almoçageme e, claro, em Fontanelas, a sua terra de adopção.

Virgílio Ferreira, quando perpassaram 85 anos sobre o seu nascimento, foi magistralmente homenageado pela Câmara Municipal de Sintra, em 2001, não só através da realização do Encontro Internacional Vergílio Ferreira, mas uma série de iniciativas paralelas que contribuíram para a perpetuação deste digno evento, cujo resultado foi publicado em volume de actas na revista municipal Vária Escrita (2002, vol. 9), sendo então Presidente da Câmara Municipal a socialista Dr.ª Edite Estrela...

E agora quando de comemora o seu centenário o que fez a Câmara Municipal de Sintra para evocar a memória deste ilustre sintrense de coração? Nada, porquanto no actual executivo presidido pelo igualmente socialista, Dr. Basílio Horta, reina apenas o emudecimento sobre um dos maiores vultos da nossa literatura contemporânea que habitou de alma e coração no nosso município como, aliás, deixou exarado em muitas e muitas páginas escritas.

Por tudo isto e reconhecendo a mais-valia ímpar de Vergílio Ferreira na literatura, não só a nível nacional, mas na sua transnacionalidade, o Movimento Sintrenses com Marco Almeida não poderia ter ficado indiferente à celebração deste centenário, ao qual prestamos, aqui, o nosso modesto tributo.

Connosco a história teria sido outra!"

Paula Simões

Vereadora da Câmara Municipal de Sintra